Publicado em 08/03/2022 às 14:43, Atualizado em 08/03/2022 às 18:48
O trabalho de mulheres de garra e coragem tem ajudado a construir o dia a dia no Sistema Penitenciário de Mato Grosso do Sul, levando um olhar mais humanizado ao mesmo tempo em que se garante a segurança e disciplina necessárias. São servidoras empoderadas, com alto nível de formação intelectual e profissional que fazem a diferença, pois as grades e muralhas não limitam a capacidade de lutarem e contribuírem com a leveza imprescindível para enfrentar os desafios de um ambiente tipicamente masculino e hostil.
Com esta sensibilidade e força feminina que a servidora Maria Guimar de Almeida assumiu a coordenação do Setor de Saúde de uma das maiores penitenciárias do estado e convive diariamente com a responsabilidade de lidar com a vida e a morte de quem depende de seu trabalho.
Há cerca de 18 anos na carreira penitenciária na área de Assistência e Perícia, como assistente social, está há 11 anos na chefia do Setor de Saúde do Estabelecimento Penal "Jair Ferreira de Carvalho" (Máxima de Campo Grande); tendo que enfrentar várias situações de tensão, até mesmo, envolvendo os próprios colegas de serviço, como no caso em que foram vítimas de atentado contra a vida na unidade prisional em 2016. “Fizemos os primeiros atendimentos e buscamos com agilidade a assistência, o que foi fundamental para que sobrevivessem”, lembra emocionada.
Mesmo em meio a essa dura rotina de lidar com a questão de saúde dentro do sistema prisional e todas as suas mazelas, encontrou força de vontade para ajudar ainda mais “os excluídos entre os excluídos”. No final de ano passado, lançou o projeto "(Re) Viver atrás das grades" voltado a presos com problemas psiquiátricos após constatar que muitos deles são abandonados até mesmo pela própria família. “O objetivo é amenizar a dor do abandono e também provocar melhora nos casos de ansiedade, com redução de surtos”, explica. Para Guiomar, a motivação para o serviço diário vem do desejo de fazer a diferença, respeitando a atuação dos colegas de profissão e o trabalho coeso em equipe.
Para o diretor-presidente da Agepen, Aud de Oliveira Chaves, assim como Guiomar as servidoras penitenciárias são mulheres corajosas e capacitadas que, além de exercerem com competência suas funções nas unidades prisionais, são exemplos de ótimas gestoras, ocupando 47% dos cargos de confiança da instituição atualmente. “São heroínas que vivenciam dupla jornada diária e, mesmo assim, não esmorecem e fazem com excelência seu trabalho”, parabeniza.
Sobrenome dedicação
"Me cobro muito para entregar o meu melhor durante o tempo que estou no serviço, amo o que faço, sou grata pelo meu trabalho, porque sei que o que conquistei foi com muito esforço, sacrifício e renúncias".
A afirmação é da servidora da área de Administração e Finanças, Tamy Ingrid Rezende, que atualmente atua no Gabinete da Presidência da Agepen e é reconhecida pelos companheiros de profissão como símbolo de dedicação e empenho. Muitas vezes, Tamy é a primeira a chegar e a última a sair da Sede da Agepen, atuando, inclusive nos finais de semana.
Servidora de carreira há 17 anos, foi devido a essa dedicação e responsabilidade com seu ofício que a profissional conquistou a confiança de trabalhar diretamente com o cargo máximo da instituição. "Aqui atendemos todo o tipo de público, desde o mais alto escalão do Governo, até ao familiar de algum reeducando que precisa sanar alguma dúvida, ou advogado para algum direcionamento. Isso exige de mim, como profissional, presteza, confidencialidade, acolhimento, empatia e mediação", revela.
O equilíbrio para enfrentar a rotina agitada de trabalho, a servidora busca em terapias alternativas e" no amor a todo ser vivo", proporcionando uma visão mais dinâmica e acolhedora em suas ações e relações interpessoais. "Nós mulheres temos diferenças maravilhosas, as mais marcantes são características como a empatia, o acolhimento, a intuição, o olhar cauteloso e a força feminina.
Vale a pena ser mulher e nossa luta é pela igualdade de respeito, amor e honra. Por isso não deixem de sonhar e de exaltar sua feminilidade", afirma.
Desafio que motiva
Rotina e mesmice são palavras que não fazem parte do vocabulário de trabalho da servidora Kamila Cristina Sanches Hernandes, que tem os desafios como motivação para a profissão que escolheu abraçar há 17 anos. Atuando na área de Segurança e Custódia, já trabalhou em unidades penais da capital e do interior, lidando tanto com a população carcerária feminina quanto masculina. Hoje o desafio que a motiva é ajudar na expansão do sistema de monitoramento eletrônico no estado, considerado referência em todo o país pelo Departamento Penitenciário Nacional (Depen).
Conhecendo desde a parte burocrática à operacional da Unidade Mista de Monitoramento Virtual Estadual (UMMVE), que hoje monitora mais de 2,9 mil pessoas, é ela quem assume a função de diretora quando o titular da pasta precisa se afastar do serviço. A confiança no trabalho é resultado de muito empenho e amor pelo que faz.
Nesta sede por desafios, Kamila, que é chefe de vigilância, também compõe o Grupamento de Ações e Fiscalização Penitenciária (GAFIP), equipe armada da UMMVE responsável pela fiscalização in loco do cumprimento das medidas judiciais de monitorados por tornozeleira eletrônica.
A força de estar sempre buscando aperfeiçoamento e novos desafios no trabalho vem da certeza de poder ser um diferencial com seu trabalho.
“Já presenciai rebelião no masculino, enfrentamento com internas no feminino, mas nunca tive medo, e a mulher também traz esse olhar mais sensível, temos que ser racional, mas também temos que lidar com as emoções, não somos pessoas que só abrem e fecham cadeados”.
Nesse contexto de histórias de coragem e amor pela profissão, a polivalência e a sutileza, características marcantes na personalidade feminina, são essenciais para o trabalho de ressocialização previsto Lei de Execução Penal, e que representa um dos principais desafios da Agepen, cujo trabalho vai muito além de guardar pessoas condenadas pela Justiça, tem a difícil missão de ajudar a resgatar vidas até então perdidas para o crime, proporcionando um recomeço diferente e um futuro digno.