Publicado em 05/07/2022 às 07:46, Atualizado em 05/07/2022 às 12:00
Moradores relataram que riacho era de águas cristalinas e farto de peixes
O que antes era um córrego de águas abundantes e cristalinas, com peixes e várias espécies de plantas aquáticas, se transformou em apenas uma vala de lama e água barrenta. Tudo isso, denunciou um morador da região de Ivinhema, logo após o local ser ocupado por uma grande lavoura de cana-de-açúcar.
De acordo com ele, o fato vem ocorrendo há mais de um ano no distrito de Amandina, município de Ivinhema. A área ao lado de sua propriedade foi arrendada para uma usina, com unidades em Angélica e Ivinhema, e, após o cultivo da área para o plantio da cana, a água do córrego, que tem uma nascente justamente próximo onde foi preparada a terra, começou a ficar barrenta, e segundo o pequeno produtor, foi aos poucos desaparecendo e parando de correr água pelo local, onde era seu ciclo natural.
“Aqui sempre correu água, limpa e cristalina. Pescávamos nesse local e hoje se encontra nessa situação, um rego de água morta e lama vermelha. É o preço do progresso”, desabafa o dono de outra propriedade por onde o córrego cruzava.
De acordo com o pequeno produtor, uma equipe do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) esteve recentemente no local para fiscalizar uma vala, que, segundo ele, foi construída pela usina para servir de dreno, por onde passa uma estrada, onde deve ser escoada a safra da cana-de-açúcar.
Procurado pelo Nova News, o gestor ambiental Rodolfo Portela enfatizou que historicamente a conservação de nascentes foi negligenciada. Apesar da necessidade ser evidenciada nas legislações há quase um século, na prática, de acordo com ele, as ações de conservação não foram implementadas.
O profissional também ressaltou que, atualmente, grande parte dos olhos d’agua estão degradados, ocupados por atividades humanas (urbanização, agricultura, pecuária, mineração).
“Estas atividades causam diversos impactos negativos para esses corpos d’água, e em alguns casos, até sua morte. Isso traz diversos impactos socioambientais e impactam diretamente nossa sociedade”, destacou.
No caso exposto, Rodolfo diz que se constata a falta de preocupação com a conservação da nascente, ao longo dos anos, as atividades desenvolvidas no seu entorno não tiveram o cuidado para manter a vegetação nativa (as matas ciliares).
“Além disso, a falta de ações de conservação do solo e água colaboraram para a chegada de sedimentos nas cabeceiras dos rios, causando o assoreamento”, completou. Outro agravante, segundo o profissional, é a presença de drenos nestas áreas, essenciais para a manutenção da qualidade e disponibilidade do recurso hídrico, que piora em períodos de estiagem.
“A falta de água impacta todas nossas atividades. Para um ser, em que sua composição é 70% de água, conservar e recuperar nascentes é uma questão de sobrevivência”, finalizou.
O Nova News também procurou a usina indicada pelos pequenos produtores, mas, até o fechamento desta matéria não obtivemos resposta.