No Brasil, há dois mundos coexistindo sob o mesmo céu: o dos que mandam e o dos que obedecem — ou melhor, o dos que mamam e o dos que sustentam. Enquanto o trabalhador levanta às cinco da manhã, encara transporte público lotado e chega exausto ao fim do dia para ver metade do seu salário evaporar em impostos, a elite política repousa em gabinetes refrigerados, entre um cafezinho gourmet e uma viagem oficial bancada com dinheiro público.
Temos, sim, dois Brasis. Um é o Brasil dos privilégios, onde auxílio-moradia é pago até para quem tem imóvel próprio em Brasília, onde o “vale-tudo” da verba indenizatória cobre do combustível do carrão ao lanchinho da tarde. No outro, está o povo — que não tem nem um vale-dignidade para conseguir atendimento no posto de saúde, quanto mais um reembolso de despesas. Enquanto a população se vira com escolas precárias, hospitais sem atendimento e ruas sem segurança, o Brasil do asfalto rachado sustenta o Brasil do tapete vermelho.
Empresários, por sua vez, vivem com o fisco no cangote. Abrem empresas com sangue nos olhos e esperança no peito, mas se veem soterrados por uma máquina tributária insaciável, uma burocracia kafkiana, carga tributária de mais de 33% do PIB, insegurança jurídica e pouco ou nenhum retorno em políticas públicas. É o empreendedor brasileiro, o herói anônimo, que financia as mordomias de quem legisla em causa própria.
E quais as consequências disso? Simples: desilusão, revolta e, claro, um país estagnado. A meritocracia é uma piada de mau gosto quando o sucesso de alguns depende do sobrenome ou do apadrinhamento político. A evasão fiscal cresce, não por malandragem, mas como grito de desespero de quem já não suporta mais sustentar parasitas. O desinteresse pela política, por sua vez, é a resposta de quem não vê mais representatividade, apenas oportunismo.
O sistema está carcomido, e cada boca calada é um tijolo a mais nesse castelo de privilégios.
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