Publicado em 15/07/2020 às 12:17, Atualizado em 15/07/2020 às 16:47
Investigador aposentado e repórter esportivo, de 63 anos, defende que a doação é um ato de amor
Tomar aquela cervejinha no fim de semana, apreciar o sabor de um tereré ou simplesmente se refrescar com um copo de água gelada são coisas que muita gente faz sem pensar, mas que, para pacientes renais representam uma grande limitação.
Com os rins comprometidos, a filtragem do sangue fica prejudicada e a ingestão de qualquer tipo de bebida, seja ela natural ou artificial, precisa ser mínima, a fim de evitar retenção de líquido, inchaço e outras complicações. Determinados alimentos, especialmente aqueles com conservantes, também precisam ser evitados.
Além destas privações, o desgaste físico de se submeter três vezes por semana à hemodiálise, que é a filtragem artificial do sangue por meio de um equipamento, seja em Dourados ou Campo Grande, é outro fator que judia bastante dos pacientes renais.
Por cerca de quatro anos, este foi o drama enfrentado pelo investigador de polícia aposentado e repórter esportivo da Rádio Excelsior FM, Edson José da Silva, de 63 anos, morador de Nova Andradina.
Felizmente, no caso de Edson José, o seu calvário chegou a um final bastante positivo, uma vez que, no último fim de semana, ele conseguiu ser submetido a um transplante, recebendo um novo órgão. O procedimento foi realizado no Hospital do Rim, em São Paulo (SP), onde ele segue internado cumprindo a fase pós-operatória.
Ele conta que, em 2016, após ser diagnosticado com problema renal grave, foi indicado o transplante, sendo que, em consulta no Hospital do Rim, em São Paulo (SP) seu nome foi colocado na fila para receber o órgão. “Havia cerca de três mil pessoas na minha frente”, disse ele, ao revelar que, durante este período, passou muito mal.
Nesta jornada, o investigador aposentado precisou ficar internado por diversas vezes, tanto no Hospital Cassems de Dourados quanto em uma clínica particular naquele mesmo município.
Edson José conta que, durante à espera, ele deveria ter voltado ao Hospital do Rim várias vezes para acompanhamento, porém, por desconhecimento, ele não fez isso, perdendo algumas oportunidades de receber o órgão.
“Marquei uma consulta lá para 01 de abril deste ano, mas devido à pandemia, ela foi transferida para 06 de junho. Em junho, me disseram que eu poderia ser transplantado, mas como eu não tinha em mãos os exames preparatórios, acabei perdendo mais uma oportunidade”, lamentou.
Edson afirma que então providenciou os exames preparatórios, que foram realizados na unidade do Hospital Cassems de Nova Andradina, sendo que, os resultados foram encaminhados por ele, via WhatsApp para São Paulo, recebendo aprovação da equipe médica.
Hoje quem precisa pode ser um conhecido ou um amigo distante, mas amanhã pode ser você ou alguém da sua família. Nenhum de nós está livre disso. Ser doador e um ato de amor!
“Estando aprovado, fui chamado para ir ao Hospital do Rim, mas eu não estava lá sozinho. Eles chamam também outros candidatos, sendo que, aquele que demonstrar maior compatibilidade com o órgão disponível é quem o recebe”, pontuou.
Ele conta que chegou à unidade às 15h de sábado (11). Após várias baterias de exames, ele foi o escolhido para o transplante, restando apenas a realização do exame para covid-19. “Eu já havia feito exame pelo sangue em Nova Andradina, dando negativo, mas lá, no Hospital do Rim, pelas normas deles, fiz outro, desta vez pela coleta de material das vias respiratórias”.
Edson José conta que o resultado do teste de covid-19 deveria ficar pronto até a noite de sábado (11), o que não ocorreu devido à quebra do equipamento pertencente ao laboratório responsável pela análise, sendo necessária uma nova coleta.
Às 07h30 de domingo (12) saiu o resultado negativo para o novo coronavírus. Às 10h15 ele foi levado para a sala pré-operatória e, às 12h15 para a mesa de cirurgia, onde foi anestesiado. “Às 13h15 eu apaguei e só acordei às 15h já transplantado. Fiquei dois dias na UTI, em observação e agora estou no quarto, me recuperando muito bem” afirmou.
O nova-andradinense explicou que deve ficar em São Paulo por cerca de três meses. “A equipe médica vai me acompanhar de cinco em cinco dias, depois de 15 em 15 dias e, se tudo correr bem, de 30 em 30 dias. Em cada retorno passarei por consultas e exames”, afirma.
“Minha esposa, Ilda Carneiro, veio para São Paulo comigo, mas devido à pandemia, o hospital não permite acompanhantes neste momento. Ela então foi para um hotel e agora segue na casa de parentes nossos aqui”, disse ele, ao agradecê-la pelo apoio.
Edson José aproveitou a oportunidade para agradecer também à família do doador mesmo sem saber de quem se trata uma vez que, por norma das autoridades de saúde, a identidade de quem doa jamais é revelada. Ele agradeceu ainda a todos que lhe acolheram durante os anos em que ficou na fila de espera pelo transplante.
“Ao Hospital Cassems de Nova Andradina, à Secretaria de Saúde de Nova Andradina, tanto na pessoa do ex-secretário, Arion Aislan, quanto do atual gestor, Sérgio Maximiano, aos responsáveis pelo transporte dos pacientes, o Jair e o Henrique, ao prefeito Gilberto Garcia, ao vice-prefeito Nenão, aos vereadores e a todos que me acompanharam nesta luta deixo meus mais sinceros agradecimentos, pois durante esta luta não apenas eu, mas todos os demais pacientes recebemos todo o suporte. Sempre fui muito bem tratado e sou grato por isso”, disse.
Apesar de celebrar sua vitória, Edson José se entristece por conta daqueles que infelizmente não puderam esperar por um rim. “Ao longo destes quatro anos de luta, de hemodiálise três vezes por semana, perdi uns sete companheiros que, infelizmente morreram por não conseguirem esperar o transplante e por não terem condições clínicas de se manterem vivos. Foram todos grandes lutadores”, declarou emocionado.
“É muito importante a doação, não apenas de rim, mas de todos os órgãos. Precisamos pensar no nosso semelhante. Hoje quem precisa pode ser um conhecido ou um amigo distante, mas amanhã pode ser você ou alguém da sua família. Nenhum de nós está livre disso. Ser doador e um ato de amor”, finalizou.
Como ser doador?
Conforme o Ministério da Saúde, o transplante de órgãos é um procedimento cirúrgico realizado exclusivamente de forma gratuita pela rede pública e que consiste na reposição de um órgão (coração, fígado, pâncreas, pulmão, rim) ou tecido (medula óssea, ossos, córneas) de uma pessoa doente (receptor) por outro órgão ou tecido normal de um doador.
Ainda segundo o Ministério da Saúde, para ser um doador, a pessoa interessada deve conversar com a família sobre o seu desejo e deixar claro que eles, seus familiares, devem autorizar a doação de órgãos.
Pela legislação brasileira, não há como garantir efetivamente a vontade do doador, no entanto, observa-se que, na grande maioria dos casos, quando a família tem conhecimento da vontade de doar do parente falecido, esse desejo é respeitado.
Os órgãos doados vão para pacientes que necessitam de um transplante e estão aguardando em lista única, definida pela Central de Transplantes da Secretaria de Saúde de cada estado e controlada pelo Sistema Nacional de Transplantes (SNT).
Pessoas que seguem na luta por um rim em Nova Andradina
O Nova News apurou, na manhã desta quarta-feira (15), junto à Secretaria de Saúde de Nova Andradina, que, atualmente, quase 30 pacientes renais residentes no município fazem hemodiálise, sendo, 23 pessoas às segundas, quartas e sextas-feiras e 02 pessoas às terças, quintas e sábados, todos em Dourados, e mais 03 pacientes que vão às segundas, quartas e sextas para Campo Grande.
A hemodiálise precisa ser feita três vezes por semana, não importa o que aconteça, mesmo que data caia em um feriado, por exemplo, o procedimento não pode ser adiado.
Além destes, há ainda outros 15 pacientes menos graves que fazem a diálise em casa e que vão a Dourados ou Campo Grande apenas para monitoramento a cada 15 dias.
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