Publicado em 10/02/2025 às 15:37, Atualizado em 10/02/2025 às 19:48

Em 2 anos, 213 suspeitos morreram durante abordagem policial em MS

Em média, foram oito mortes por mês registradas entre 2020 e 2024, segundo dados do Sinesp

Campo Grande News,
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Viaturas policiais no Portal Caiobá em março de 2024, onde homem foi morto em confronto - Foto: Osmar Veiga

Em quatro anos, Mato Grosso do Sul registrou 399 mortes por intervenção policial, 213 em 2023 e 2024. Os dados são do Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública. De acordo com o portal, o maior número de casos foi registrado em 2020, sendo 134 ocorrências, e em 2021 não houve nenhum homicídio nos chamados "confrontos com as forças de segurança pública".

Conforme os dados, em 2022 foi registrado o menor número de casos, com 52 ocorrências. Já em 2023, os registros saltaram para 127, representando um aumento de 144% e, em 2024, houve uma queda de 32,28% com 86 mortes em abordagens policiais durante todo o ano.

O último caso registrado no ano passado foi no dia 23 de dezembro, em Dourados, cidade a 251 quilômetros de Campo Grande. Na ocasião, Rodrigo Gonçalves, 29 anos, foi baleado por policiais militares após ameaçar a guarnição com um machado. O rapaz chegou a ser socorrido, mas morreu no Hospital da Vida. Ele era paciente psiquiátrico.

Ainda de acordo com o levantamento, em 2024 o maior número de mortes em confrontos aconteceu no mês de março, com 13 registros, seguido de dezembro, com 12, e novembro, com nove. Os dados mostram, ainda, que, em média, foram registradas sete mortes por mês durante abordagens policiais no ano passado.

Se fizermos a média dos últimos quatro anos, foram ao menos oito mortes por mês entre 2020 e 2024. Do total, 372 vítimas eram homens, seis eram mulheres e 21 não tiveram o gênero informado. Já entre 2015 e 2024, os dados mostram que houve aumento de 473% nas ocorrências de mortes por intervenção policial. Em números exatos, os registros saltaram de 15 para 86 em nove anos.

Em 2025, segundo o portal Sigo Estatística da Sejusp (Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública), já foram registradas 13 mortes por intervenção de agentes do Estado, sendo dez delas no primeiro mês do ano, e o último caso registrado aconteceu na madrugada do dia 2 de fevereiro.

Na ocasião, Tainara Gonçalves Machado, Luiz Kaio Garsino dos Santos e adolescente de 16 anos morreram após invadirem loja de joias no Centro de Campo Grande. O trio roubou e espancou ourives de 71 anos e foi baleado por equipes da Polícia Militar. Eles foram socorridos, mas não resistiram e morreram.

Polícia atua para reagir - O delegado que ministra cursos de TPPO (Técnicas Policiais e Procedimentos Operacionais), Guilherme Scucuglia, explicou que, na prática diária, os militares precisam estar prontos para reagirem à mínima menção de perigo à própria vida, ainda que não tenha disparo ou ataque direto durante a ocorrência.

 “Isso tecnicamente se chama legítima defesa, quando um policial vê que sua vida, sua integridade física está em risco a ponto de, eventualmente, vir a sofrer um dano, não necessariamente ter sofrido um dano, mas vir a sofrer um dano, esse policial tem por dever legal, ou por autorização legal, a possibilidade de reagir com os meios que ele tiver a sua disposição. Desde que esse meio seja efetivo”, detalhou o delegado titular da Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubo a Banco e Resgate a Assaltos e Sequestros).

Conforme Scucuglia, o policial atua para reagir e não para matar. “A atividade da polícia não se trata de matar as pessoas. A gente lida com pessoas com alto poder vulnerante (capacidade de um objeto ou arma de causar dano) e vez por outra a gente precisa agir, num português claro, para não morrer”, finaliza.