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"Em Nome da Rosa e o Mercador de Veneza: A Intolerância Fomentada por Péssimas Intuições Religiosas e Políticas", por Claudinei Araújo

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Claudinei Araújo dos Santos - Foto: Arquivo Pessoal

Na década de 1980, Umberto Eco, lançou um romance Histórico, “ O Nome da Rosa”, lembro de assistir o filme na década de 1990 quando minha professora de Língua Portuguesa, Eliane Maria, passou como atividade extra em sala de aula, um filme marcado por diversos acontecimentos sombrios, chegava a ser assustador aos meus dias de adolescente, sendo quebrado apenas por uma cena mais romântica entre o noviço Adso e aquela do qual procura-se a denominação de a Rosa, a moça do filme.

O filme tem cenas de investigação sobre as mortes dentro de um mosteiro que um frade franciscano, Guillherme William (Sean Connery) realiza com seu fiel parceiro Adso. O nome da Rosa, é um filme de caráter filosófico, quase metafísico, já que nele também se busca a verdade, a explicação, a solução do mistério, a partir de um novo método de investigação. E Guilherme de Bascerville, o frade fransciscano detetive, é também o filósofo, que investiga, examina, interroga, duvida, questiona e, por fim, com seu método empírico e analítico, desvenda o mistério, ainda que com isso pague um preço alto enquanto inquérito e investigador. O texto de Umberto Eco nos causa a necessidade de investigarmos, busca por novas percepções e concepções, de forma peculiar, quando percebe-se que as mortes estão acontecendo devido o acesso de pessoas a biblioteca do mosteiro, vejam bem, o acesso a biblioteca, a busca pelo conhecimento pode ter causado diversas mortes naquele local, é um convite a fantástica leitura, pode ser abreviado pelo filme que leva o mesmo nome.

A peça O Mercador de Veneza foi escrita há mais de quatro séculos, mas ainda coloca em tela temas que permanecem relevantes, como discriminação racial, intolerância e violência. O livro nos lembra de passagens sobre identidade e igualdade, especificamente ao tratarmos do indelével discurso, de Shylock: Sou um judeu. Então um judeu não possui olhos? Um judeu não possui mãos, órgãos, dimensões, sentidos, afeições, paixões? Não é alimentado pelos mesmos alimentos, ferido com as mesmas armas, sujeito às mesmas doenças, curado pelos mesmos meios, aquecido e esfriado pelo mesmo verão e pelo mesmo inverno que um cristão? Se nos picais, não sangramos? Se nos fazeis cócegas, não rimos? Se nos envenenais, não morremos? E se vós nos ultrajais, não nos vingamos?

Esse trecho também é utilizado no filme “Ó Pai ò”, do qual o personagem de Lázaro Ramos reclama copiosamente ao texto de Shakespeare, para dizer que negro também é gente, negro sente dor, sofre, sangra, tem afeições, paixões, tal qual o judeu da escrita original. Lilia Moritz Schwarcz, antropóloga e historiadora, disse outro dia que o brasileiro pode atualmente demonstrar um pouco do que ele factualmente é, intolerante, caiu-se a máscara da cordialidade, é possível nesse momento ser racista, homofóbico, machista, preconceituoso e ainda, sair-se muito bem, em nome dos princípios da moralidade e da dignidade, da fé, da justiça, dos bons costumes. O autoritarismo ergueu suas mangas para mostrar-se ativamente feliz com os mandos e desmandos.

A resposta não pura e muito menos única, o fato é que precisamos pensar o momento em que estamos vivendo, política e religiosamente, haja vista, os lados políticos tornaram-se verdadeiras religiões inquestionáveis. Não paramos para debater, entender o lado do outro, a religiosidade ou não religiosidade praticada, tomamos novamente como verdade absoluta o nosso ponto de vista, marcados veementemente pela ignorância, pior ainda, pela maldade de não querer saber o que o outro pensa. Diga-se de passagem, sabermos que somos ignorantes é essencial, todos somos, diria Chicó, “num sei, só sei que foi assim”, Sócrates muito anteriormente, “Só sei que nada sei”, em outras palavras, é essencial sabermos que somos ignorantes e compreender nossa ignorância é o ponto inicial para cravarmos a sabedoria.

Considerações que não são finais, sobre tudo isso? Sim. Plantemos o respeito e a tolerância e consigamos no decorrer dos dias do ano que se inicia sabermos que um país melhor se constrói com pensadores, capazes de pensar diferente sempre que necessário, inclusive pensando e formando gente, pois como disse um dia meu Professor de História do Brasil Colônia: “O melhor título que uma pessoa deve buscar é o Título de Gente”. Respeite o outro e o seu título será sempre o de gente. 

Claudinei Araújo dos Santos - Licenciado em História pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - Campus de Nova Andradina (2010). Mestre em Geografia pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul - Campus de Três Lagoas - MS - 2015.

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