Anda Menina levanta, daí!!
“ Tu, não é negra, olha a tua cor! Como a questão desse pertencimento, como se negritude fosse só tom que se carrega na pele, um mais claro, ou mais escuro, como se as outras coisas não importassem, como se sua raiz, sua família... soa como uma ofensa alguém com um tom mais claro se declarar Negra”. Nomear a cor de alguém, é, portanto, inserir esse alguém numa ordem pré-estabelecida, com base no que podemos chamar de hierarquização de cor: quanto maior valor e direitos confere ao seu possuidor. Ter um tom mais claro de pele e declarar – ser Negra pode ser visto como um desperdício de oportunidade e como uma traição para aqueles que ela te trata da aparência física ela declara a problemática de ser negra que sempre levou para vida, até a sua própria família a rejeitava pelo fato de se mostrar negra, uma construção identitária que aos poucos o negro vai se reconhecendo e se formando, como fruto de um processo ao longo da vida, não é automático. Porque todos as suas voltas te remontam a negação da evidencia. O maior conflito na relação com o corpo é sem dúvida a aceitação do cabelo, pois ele carrega a maior simbologia, uma imagem de força e resistência, “ o cabelo era visto como algo que deveria ser dominado, modificado, controlado de alguma forma para se encaixar no dito padrão de beleza, do branco. A identidade para se constituir como realidade, pressupõe uma interação. A ideia que um indivíduo faz de si mesmo. De seu “eu”, intermediada pelo reconhecimento obtido dos outros em decorrência da sua ação. Nenhuma identidade é construída no isolamento (D’ Adesky,).
As semelhanças entre os depoimentos estão na angústia da construção da identidade negra, que pareceu ser construída de forma semelhante, num processo subjetivo e íntimo. Uma formação ideológica, que vai além da cor da pele ou do volume do cabelo, mas pelo pertencimento a uma continuidade identitária afastada do branqueamento, inferioridade e da dominação histórica, deixada pelos traumas e sofrimentos de seus descendentes. A busca de um reencontro que parecia tão distante, mas que ao mesmo tempo gritava dentro de si, fazendo delas protagonistas de uma metamorfose consciente.
Ao interpretar a atitude da Mulher Negra brasileira observamos que esta angústia em se aceitar como são, vem enraizada há várias gerações, onde as Mães passam para as filhas a necessidade de se definir no padrão de comportamento. Observamos que as gerações atuais ao assumirem seus biótipos parecem se libertar das amarras, há séculos contra os padrões brancos. As mulheres negras parecem agora se sentir lindas, vaidosas, “empoderadas” e dentro de um contexto que sempre esteve lá e nunca se deram conta. Donas de uma força extraordinária atravessaram gerações acreditando num paradigma social imposto a elas: “mulheres negras foram socializadas para cuidar dos outros e ignorar suas necessidades”, mas temos um avanço ou uma modificação no momento em que as pesquisas apontam para uma “chuva” de mulheres negras nas universidades. Isso nos habilita a afirmar que assistimos a um processo de mobilidade social proporcionado pela formação escolar, a educação, o conhecimento que as fez ascender à condição de uma classe média, mesmo que o referencial dessa posição se restrinja apenas à população negra.
No que diz respeito à luta pela vida, compreendida na resistência cotidiana que acolhe “... é a mulher negra anônima, sustentáculo econômico, afetivo e moral de sua família, aquela que desempenha o papel mais importante. Exatamente porque, com sua força e corajosa capacidade de luta pela sobrevivência, transmite a suas irmãs mais afortunadas, o ímpeto de não nos recusarmos à luta pelo nosso povo. Vivendo numa realidade, onde a libertação propriamente dita nunca aconteceu, ser mulher negra é um processo de reencontro cotidiano, de reconstrução da identidade que foi tomada e negada, é falar sobre a vivência do amor para os negros e, sobretudo, para as mulheres negras. É transformação em potência máxima da resistência e da libertação não só das mulheres negras, mas das MULHERES. É o que possibilita que se possa bravamente amar e, assim, destruir e transformar qualquer realidade opressora à nossa volta.
Myla Meneses- Ativista do Movimento Negro- Membro da Diretoria do Grupo TEZ (Estudos Zumbi), Especialista em Educação à Distância pela UCDB- Campo Grande - MS, licenciatura em História pela UniFAA- Valença- RJ, Mestra em História do Programa de Pós-Graduação em História (PPGH), Linha de Pesquisa Fronteiras, identidades e representações pela UFGD. Contatos: Instagran: @profamylaartigotcc/ Email: [email protected]
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