Publicado em 22/05/2021 às 13:32, Atualizado em 24/05/2021 às 17:39
As doenças cardiovasculares são a principal causa de mortes no mundo desenvolvido — e a hipertensão é o principal fator de risco.
Nesse sentido, muitas iniciativas têm sido adotadas buscando combater a hipertensão em nível populacional, sendo que as principais delas focam em reduzir o teor de sódio na alimentação.
No entanto, e se essa for a abordagem errada?
É isso que os estudos científicos mais modernos vêm mostrando.
No caso, a ciência vem deixando cada vez mais claro que o foco no sal para baixar a pressão é equivocado, e que deveríamos focar em outro pó branco: o açúcar.
Uma das evidências mais poderosas a este respeito é o fato de que muitas pessoas têm adotado uma dieta low-carb (alimentação baixa em açúcar e em carboidratos).
E que, mesmo sem controlar a ingestão de sal, elas ficam livres da hipertensão.
Na verdade, regularizar a pressão arterial é um dos principais benefícios de uma dieta low-carb.
É curioso que os esforços de saúde pública tenham focado no sal por tanto tempo.
Afinal de contas, os potenciais benefícios de restrição de sódio alimentar são bastante discutíveis.
Sendo que o excesso de ingestão de sódio geralmente não se dá pelo acréscimo do cloreto de sódio (sal de cozinha) como tempero.
Mas sim pelo consumo excessivo de alimentos processados — nos quais, além de uma maior concentração de sódio, também costumamos encontrar altas doses de açúcar adicionado.
As evidências de estudos epidemiológicos e ensaios experimentais em animais e humanos sugerem que os açúcares adicionados (particularmente a frutose — presente em frutas, mas também usada como adoçante de maneira industrial) podem levar ao aumento da pressão sanguínea, dos batimentos cardíacos, e da inflamação no corpo.
Além de aumentar a incidência de resistência à insulina e disfunção metabólica no geral.
Desta forma, sugere-se que os benefícios em se reduzir o consumo de alimentos ultraprocessados (preferindo-se a comida de verdade) venha menos da redução de sódio (que é minimamente ligado à pressão sanguínea, e talvez inversamente relacionado ao risco cardiovascular) e mais pela redução de carboidratos refinados.
Pois uma redução na ingestão de açúcares adicionados, particularmente frutose, e especificamente nas quantidades e contexto dos produtos alimentícios industrializados, poderia não só diminuir a prevalência de hipertensão, mas também endereçar outros problemas ligados à doença cardiometabólica.
Ou, como resumiu o cardiologista Dr. Ricardo Schneider em entrevista sobre o assunto:
“A pressão alta traz complicações, tanto a curto prazo, quanto a longo prazo. Então ela precisa ser muito rapidamente tratada.
O problema é que, hoje em dia, as pessoas tratam com remédio — sendo que muitas vezes a hipertensão não precisa disso: você consegue tratar a hipertensão só com uma alimentação correta.
E “alimentação correta” não é tirar sódio — é tirar açúcar! Este é um grande erro da cardiologia: botar a culpa no sódio.
Referências
DiNicolantonio JJ, Lucan SC. The wrong white crystals: not salt but sugar as aetiological in hypertension and cardiometabolic disease. Open Heart 2014;1:e000167. doi: 10.1136/openhrt-2014-000167