Publicado em 09/10/2021 às 10:33, Atualizado em 09/10/2021 às 14:42

"O jeito de um país sem jeito”, por Elizeu Gonçalves Muchon

Elizeu Gonçalves Muchon ,
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Imagem: Divulgação

O Brasil tem jeito? Fiz essa pergunta para uma dúzia de intelectuais. Fiz a mesma pergunta para outro grupo de pseudointelectuais. Por fim, perguntei a pessoas consideradas comuns, ou seja, trabalhadores, como eu que ralam todos os dias para botar comida na mesa.

Por razões diversas não posso reproduzir aqui as respostas. Necessitar-se-ia de um bocado de páginas. Além do mais, obtive respostas com um enorme teor filosófico, outras com sabedorias implícitas, outras com palavrões em tom de desabafo, outras de conteúdo jocoso, outras com soluções mágicas, algumas com verdadeiras aulas de democracia, saber jurídico, lastro em planejamento de governo e por fim, garanto que foi realmente um aprendizado ouvir a sabedoria popular, que deveras, espero que seja expressada nas eleições de 2022.

Resumindo, selecionei uma frase sobre a qual despertou minha curiosidade: alguém falou com muita eloquência em tom de pergunta – Que jeito se pode dar a um País sem jeito?

É claro que o Brasil tem jeito. Entretanto, é preciso lembrar que o Brasil tem uma história tecida por narrativas complexas e descontinuada. É importante ter a consciência de que o cenário político que vivemos hoje é reflexo certo de um passado atribulado, portanto, para entender o momento, é necessário estudar o passado, ou seja, entender como se constituiu a estrutura política que temos hoje.

Como foram as fases da formação econômica do País? (Celso Furtado mostra detalhadamente em suas obras).

O contexto socioeconômico do Brasil Colônia, Brasil Império, Proclamação da República e suas fases, o surgimento dos Partidos Políticos. O golpe de 1964. A retomada da Democracia e a Carta Magna de 1988. O aumento da corrupção em escalada sistêmico e endêmica na história recente.

Trata-se de enorme imbróglio, que pariu um sistema tributário maluco, códigos confusos e às vezes paternalistas, com viés de privilégios a poucos em detrimento de muitos. Trata-se de legislações eleitorais que permitem, por exemplo um mandato de oito anos a um Senador(a). Um amontoado de partidos políticos que vendem suas siglas e até a alma ao diabo para reunir recursos para as eleições. Sem contar a dinâmica de funcionamento do Congresso Nacional em sistema bicameral, que amarra a governabilidade e faz legislações em benefício próprio.

O conjunto de práticas criou uma cultura que gerou o atual modelo administrativo do Brasil, gerou em igual escala um Judiciário altamente comprometido com os vínculos políticos, especialmente a Suprema Corte que tem seus representantes indicados.

Consertar é absolutamente possível, porém é necessário a boa vontade e comprometimento das autoridades dos três Poderes, coisa que leva tempo e esperança nas gerações futuras.

É difícil consertar o Brasil, talvez devemos começar consertando nosso próprio quarto.

Elizeu Gonçalves Muchon.

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