Publicado em 28/07/2021 às 16:48, Atualizado em 28/07/2021 às 20:51

“O mensurável”, por Elizeu Gonçalves Muchon

Elizeu Gonçalves Muchon,
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Imagem: Divulgação

O grande Galileu Galilei, certa vez sugeriu: “meça o que é mensurável e torne mensurável o que não é.”

Pois bem, senhoras e senhores, como podemos medir esse período pandêmico? Ou medir esse “esquenta” das eleições presidenciais no Brasil?, Ou a beleza dos Jogos Olímpicos? Ou, que tal, a “velhofobia” aguçada nesse período em que milhares de pessoas cruzaram o portal dos mortos?

Para seguir os conselhos de Galileu, tornar-se-á necessário escolher primeiro a régua. Penso com firmeza de convicção de que não se pode usar a régua do mal para medir o bem e vise versa.

Para corroborar com a tese da importância de medir, que serve indubitavelmente para se estabelecer um planejamento em busca de soluções, recorro-me ao Filósofo – pai da geometria – Euclides de Alexandria, que baseou seus estudos partindo do pressuposto que: “ as leis da natureza são apenas os pensamentos matemáticos de Deus”.

Evidentemente que esse é um exercício desafiador. Porque não dizer quase impossível para boa parte das pessoas. A começar pelo baixo grau de empatia que habita a natureza humana. O Alto grau de arrogância, hipocrisia, egoísmo e falta de capacidade de resignação.Ainda, quase nada no agir coletivo para quebrar paradigmas e virar páginas no complexo mundo de viver em sociedade.

Dia desses, em uma fila de supermercado, presenciei e até interferi a certo ponto, para apaziguar a situação em episódio que mostra na prática o conceito de medida alheia. Na fila ao lado, um senhor aparentando mais de setenta anos, sofreu em menos de cinco minutos, pelos menos três tipos de agressões, preconceitos e discriminações.

Resolveram medir o senhor com a régua da estupidez. Primeiro, o abordaram para que ele deixasse aquela fila e fosse para o caixa preferencial, sendo que preferia ficar ali. Segundo, questionarama máscara que estampava o nome de seu pré-candidato a presidente, como se ele, por ter mais de setenta anos não pudesse ter opinião política. (Presidente dos Estados Unidos Joe Biden tem 78 anos). Terceiro, alguém disse: é por isso que o cemitério está cheio, devia estar em casa e não no supermercado exibindo essa máscara ridícula.

Então, me senti na obrigação de defender aquele senhor. Pedi para deixa-lo em paz. Ao notar minha interferência, o sábio senhor assumiu sua alto- defesa.

Apontando para seus algozes ele disse: “nem todo idoso é velho e há velho que ainda não chegou a ser idoso.

Alguém zombou dizendo: olha ele fala, o gagá fala.

Pensei novamente em assumir a defesa do idoso, entretanto, com uma eloquência admirável ele retrucou: Sou grato por ter amigos e amores com quem posso compartilhar o meu mantra. Já vocês, filhotes de uma sociedade podre, querem me medir com a régua dos estúpidos, pensando que nunca vão envelhecer. Tomou suas sacolas e partiu.

Os “agressores” ficaram com cara de “loló”. Fiquei com o final daquela frase na cabeça: “querem me medir com a régua dos estúpidos”.

Motivado pelo episódio, comecei a fazer uma autocritica de minha própria capacidade de mensurar, julgar, atribuir a outrem, valores com minhas “réguas da verdade” e logo percebi quão difícil é compreender a natureza, sobretudo a humana, que Euclides da Alexandria atribui aos pensamentos matemáticos de Deus. Cheguei à conclusão de que não sou estúpido como os citados agressores da fila no supermercado, não sou, mas, por outro lado, minha régua, não raro faz medição absolutamente equivocadas.

Medir é muito difícil, o fácil é saber que uma medida errada deixará a construção torta. Ademais, resta lembrar que o “imensurável” é o amor de Deus, tudo além disso acaba passando pelo crivo das medidas.

Elizeu Gonçalves Muchon.

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