Publicado em 27/07/2020 às 14:41, Atualizado em 27/07/2020 às 18:42
É importante ressaltar que nesta semana o Brasil pode se felicitar com a aprovação do Novo Fundeb, entretanto, uma pergunta me surge: vivemos tempos de construção ou desconstrução da Educação. É possível perceber que de quando em vez, governos sugerem ressaltar que professores são culpados e causadores de situações que colocam em risco a credibilidade do governo, da pátria, da família e de outros condicionantes que rondam as nossas peculiaridades nacionais.
Um filme que está na Netflix do ano de 2013, “O Físico”, retrata parte do que estamos a viver, retrata um jovem que sai da Europa Medieval e vai a Persia, local em que a medicina está em crescimento, surgem as amputações relâmpago, extrações dentárias, curandeirismo, apendicites, peste negra e catarata, retratando todo o exercício de busca de aprendizado que coloca o médico na busca e na investigação para alcançar respostas. O interessante do filme é observarmos como a ciência e a pesquisa são postas a prova em nome das instituições religiosas, fomentando o desprezo pela obviedade dos fatos e do conhecimento.
Nesse sentido, pretende-se colocar em tela de que maneira os últimos anos da história social brasileira joga em linhas baixas o desenvolvimento da pesquisa, da essência e da docência. Veja-se que outro dia, o psiquiatra carioca Italo Marsilli, cotado então para o ministério da Saúde, tratou com tamanho desprezo a formação dos professores na atualidade, inclusive tratando que o Pedagogo no momento seria as pessoas com o nível mais ruim possível de aprendizado, pessoas incapazes da intelectualidade. O que há de novidade na fala dele?
Nada. Nada mesmo, pois é possível lembrar como esse momento é pautado pela desqualificação educacional, pelo destrato a leituras, é muito comum, pessoas sem formação alguma tratarem o estudioso como se as práticas de leitura, de estudo, de busca pelo conhecimento fossem a habilidade do nada. Desconsiderar o saber e a pesquisa tornaram-se direcionamentos, inclusive das pessoas que jamais anseiam por pesquisas, deixando claro, que as pessoas não são e nem podem ser melhores por que estudam, existe muito doutorado na vida prática, ressalta-se muitos são engenheiros sem diploma, médicos sem nunca terem frequentado um curso de medicina, não é coerente desprezar o conhecimento popular, entretanto, é inadmissível que se desconsidere o saber científico, jogue para o desfiladeiro as pesquisas que vem em prol da qualidade e vida humana.
Desta forma, quero colocar em compreensão o crescimento da intolerância, da significância do desprezo, tenho visto pessoas que serão candidatas a vereança e a prefeitura de minha cidade, realizar total desdém aos professores, dizer que os professores vão mal no ensino e a aprendizagem, sem mesmo frequentar uma sala de aula, ou mesmo tendo sido ensinados por bons professores, agora desconhecem a importância de seus professores, balizados é claro, por um campo ideológico que coloca em descrédito a profissão do professor pelo simples fato de coadunar com seus ideais e ideias perenizadas no tempo da não busca de conhecimento.
Atente-se para analisar as questões voltadas a medicina, remédios sem comprovação científica ganharam ênfase, a questão de gênero ganhou fomento de desprezo com agressividade, a orientação sexual parece ser algo de outro mundo, o racismo, a homofobia e o machismo ganharam negacionismo, políticas públicas que ganharam corpo no início do século XXI, tem ganho total desacordo, pelo simples fato de não coadunar aos interesses de determinados grupos religiosos, políticos e sociais, é o ápice da ignorância, da maldade, do ato desumano, desvalorização da dignidade humana.
A historiadora e antropóloga Lilia Moritiz Schwarcz, em “Sobre o Autoritarismo Brasileiro”, mostra que a máscara de brasileiro cordial, bondoso, ligado a democracia Racial, caiu, sim, simplesmente veio chão, suscitou o homem (mulher) violento que temos na historicidade do Brasil, o nosso colonialismo enraizado ao escravismo, racismo, mandonismo, patrimonialismo, nos permite dar nova face ao que sempre fomos e que apenas estava armazenado no íntimo de nossas astúcias, violência e intolerâncias.
Que tempos são estes, em que temos que defender o óbvio?... Bertolt Brecht. – Sim a obviedade e a dignidade humana estão sendo colocadas a prova, ergue-se o princípio de não acreditar na coerência, a ponto de alguém lhe dizer: Somente pelo fato de estudar as coisas que falam são as certas? Não. Claro que não, ressalta-se anteriormente os excelentes profissionais sem frequentarem bancos escolares e de um curso superior, entretanto, é de extrema relevância, para e ver o óbvio não pode sofrer retrocesso, a vida, necessita ganhar na ciência os direcionamentos para continuar a valorização do ser humano, afinal todos temos ideologia, ideias e ideais, recobra-se apenas saber se o que colocamos como pontos ideológicos estão amparados pela inclusão ou por campos de exclusão.