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“Livre-se de relacionamentos abusivos”; por Felipe Pereira

Escritor de Nova Andradina entrevistou uma jovem que compartilhou suas experiências

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Felipe Pereira - Imagem: Arquivo Pessoal

É inconcebível que em pleno o século 21 ainda exista relacionamento de caráter possessivo. Infelizmente, algumas dessas relações se findam de maneira trágica. Muitas pessoas vivem ou viverão em um relacionamento abusivo, há pessoas que passam por essa situação e não sabem como reagir. Várias pessoas convivem com companheiros que, dotados de ciúme doentio, causam feridas psicológicas e físicas; procurando ajudá-las, foi feita uma entrevista, pelo escritor Felipe Pereira, com a jovem Karina (nome fora adulterado para preservar a imagem da entrevistada). Karina demonstrou-se animada ante a perspectiva de compartilhar sua experiência e ajudar a outros que vivem nesses laços amorosos insalubres ao qual ela viveu.

Felipe: Como é viver num relacionamento abusivo?

Karina: É como se você estivesse envolvida em uma bolha, onde você é limitada, está sempre com medo, sempre com receio, triste, você deixa de se amar por se permitir estar naquela situação, mesmo que sair dela seja mais difícil do que permanecer. A pessoa abusiva, geralmente é instável. E está sempre num ciclo: surta (onde acontece as agressões físicas e/ou psicológicas), depois começa chorar e diz estar arrependida, mas sempre jogando a culpa na vítima, com frases do tipo: "olha o que você me faz fazer, eu não sou assim", depois ela agrada com presentes, surpresas, vira um amor, depois surta de novo e assim vai. É tipo um pesadelo onde a gente está acordada.

Felipe: Como saber quando se está entrando num relacionamento abusivo? Quais os primeiros sinais?

Karina: A verdade (e hoje eu posso ver) é que a pessoa dá sinais desde o início. Ela começa a ser possessiva, te afastar das pessoas queridas, invadir tua privacidade. Mas a gente, no começo, acha que é insegurança, "ciúmes fofo", até tudo virar uma bola de neve. Com poucos dias juntos, o namorado abusivo que tive, pegou meu celular quando eu saí, e excluiu inúmeros amigos das minhas redes sociais, sem motivo algum. Foi um sinal claro, mas como eu nunca tinha estado em um relacionamento abusivo, tolerei.

Felipe: Estar num relacionamento assim, afetou sua saúde psicológica? Teve algum quadro de depressão?

Karina: Sim! Eu queria sair do relacionamento, mas quando eu tentava, ele me aterrorizava muito mais, começava me assustar. Por exemplo, quando eu chegava de madrugada da faculdade, eu sentia o perfume dele em uma construção na esquina da minha casa, às vezes via ele encostado numa árvore no fundo da minha residência e isso me assustava muito, muito mesmo! E foi criando um grau de medo dentro de mim, que eu carrego até hoje, anos depois. Quando eu vi que não conseguiria me livrar dele, chorava todas as noites, perguntava para Deus se ele me odiava, pedia forças para me matar, ou matar ele, me afundei num poço de tristeza, medo e ódio inexplicável.

Felipe: Como você fez para sair desse relacionamento? Teve ajuda de amigos ou familiares?

Karina: Eu consegui me mudar para outro lugar, foi o que me ajudou. Não consegui contar para ninguém na época, sentia vergonha.

Felipe: Se você tivesse conversado com alguém, acha que teria sido mais fácil?

Karina: Sim! Alguém teria denunciado por mim, teriam feito alguma coisa, porque eu não conseguia fazer nada. Ele era super instável, várias vezes quando eu tentava terminar, me ameaçava com faca, então eu tinha muito medo, acredito que esse é o maior problema em denunciar agressões; se eu tivesse contado para outra pessoa, que não estivesse inserida na bolha, ela saberia o que fazer, teria me poupado de muitas coisas.

Felipe: O que você tem a dizer para as vítimas de relacionamento abusivo?

Karina: Que saiam imediatamente, que contem para outras pessoas. Que saiba que ele não vai mudar, que o ciclo vai se repetir de novo e de novo. Que, infelizmente, o fim é a morte, eu me vi perto dela várias vezes. Só estou aqui porque mudei para longe, essa é a realidade.

Fica aqui uma lição, por mais dificultoso que seja tomar uma atitude, é necessário ajuntar toda a coragem e denunciar esses tipos de abuso. Conversar com familiares e amigos ajuda a criar a confiança necessária para que alguma coisa seja feita. Ao primeiro sinal de estar vivendo em uma relação conturbada, saia imediatamente, e não permita que ninguém roube o que há de mais valioso em você: sua liberdade.

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