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"Quando o bandido é solto e o policial é preso: o retrato de um país virado de cabeça para baixo", por Sargento Betânia

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Imagem: Arquivo Pessoal

Que país é esse em que a corrupção deixou de causar indignação e passou a ser tratada como um detalhe corriqueiro da vida pública, em que o roubo ao erário virou sinônimo de esperteza e a honestidade foi rebaixada à categoria de ingenuidade, em que a população, já anestesiada por tantos escândalos, reage com um resignado “Ah, mas todos fazem isso”!

O recente escândalo envolvendo o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) escancarou a ousadia e a frieza de uma verdadeira máfia financeira. Uma rede de servidores, lobistas, políticos e intermediários de diversos segmentos montou um esquema criminoso para aplicar empréstimos e serviços consignados sem autorização dos aposentados e pensionistas. Idosos que sequer sabiam da existência dessas operações viam, de um mês para o outro, descontos indevidos em seus benefícios, muitas vezes ficando sem recursos para comprar remédios ou alimentos. Não se tratava apenas de fraude, mas de um ataque direto à dignidade do idoso, um crime cometido com a caneta, o carimbo e a conivência de quem deveria proteger o cidadão.

Enquanto isso, o crime organizado avança nas ruas com a força de um Estado paralelo. Cidades inteiras do Nordeste foram tomadas pelo medo, famílias expulsas de suas casas, comércios fechados e o toque de recolher imposto por criminosos. O povo de bem se tranca em casa, enquanto os marginais dão ordens. E o Estado, que deveria agir, observa em silêncio, inerte e covarde.

O mesmo País que permite que o crime dite as regras, agora pune quem o enfrenta. Policiais Militares nordestinos foram presos por fazer aquilo que juraram cumprir: defender a sociedade. Durante uma troca de tiros, dispararam mais de noventa vezes para repelir uma injusta agressão e sobreviveram. Sim, sobreviveram, e por isso foram punidos. A justiça, essa mesma que liberta criminosos por “falta de provas”, decidiu colocar tornozeleira eletrônica em quem teve a coragem de combater o mal de frente.

Como se não bastasse, a imprensa, que deveria ser o canal da verdade e da informação responsável, resolveu prestar um desserviço à sociedade. Na ânsia de “noticiar”, divulgou os endereços dos Policiais presos, expondo suas famílias ao risco e entregando-as de bandeja ao crime organizado. Um ato de irresponsabilidade, leviandade e desumanidade, que escancara o quanto parte da mídia abandonou o dever ético de proteger a vida em nome de manchetes baratas e militância disfarçada de jornalismo.

É o retrato mais fiel da inversão de valores, em que quem cumpre a lei é punido e quem a viola é exaltado. O Policial que é o escudo da sociedade, é tratado como inimigo, enquanto o bandido, que destrói famílias, é visto como vítima das circunstâncias. O crime ganhou glamour, o criminoso ganhou documentário e o trabalhador honesto ganhou medo.

Enquanto isso, o cidadão segue pagando impostos abusivos, acreditando, teimosamente, que um dia verá retorno. Mas, o que encontra são estradas esburacadas, hospitais sem estrutura, escolas doutrinadoras e um Estado cada vez mais pesado, caro e ineficiente.

A bandidolatria se consolidou como religião moderna. Criticar o crime virou “falta de empatia” e exigir justiça virou “discurso de ódio”. O Brasil precisa, urgentemente, olhar-se no espelho e responder com sinceridade: quer ser um país de leis ou um país de desculpas? Quer defender quem protege ou continuar premiando quem destrói?

Porque, no ritmo em que estamos, logo teremos de trocar o lema da bandeira. “Ordem e Progresso” já não reflete a realidade. O mais apropriado seria “Rouba, mas faz”.

Todavia, ainda há esperança. Ela nasce quando o cidadão comum, aquele que trabalha, paga impostos e acredita em Deus, decide não se calar mais. Quando entendemos que moralidade, segurança e justiça não são favores concedidos pelo Estado, mas direitos de um povo que se recusa a ajoelhar-se diante da corrupção e da covardia.

O Brasil que queremos só começará a existir quando a vergonha voltar à moda, quando o certo voltar a ser certo e quando defender a verdade deixar de ser crime. 

(Por Sargento Betânia – Especialista em Segurança Pública)

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