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Como filmar uma entrevista; com dicas de Celina Torrealba

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Imagens fornecidas por Celina Torrealba

As entrevistas são um dos principais elementos de qualquer documentário, servindo como plataforma que dá voz a pessoas diretamente ligadas ao tema central do filme. Por conta disso, é importante que documentaristas saibam como entrevistar, um processo que engloba desde o planejamento e pesquisa que antecede a entrevista, até o momento da filmagem.

A seguir, há um guia sobre como filmar entrevistas, com algumas dicas da cineasta Celina Torrealba, fundadora da Donna Features e produtora de inúmeros documentários e longas como “O Farol” e “Wasp Network — Prisioneiros da Guerra Fria”.

Preparação para a entrevista

O cenário, a pessoa entrevistada, e até mesmo a temática do documentário são fatores determinantes para a filmagem de uma entrevista. A entrevista deve servir algum propósito no filme e, por isso, o cineasta deve planejá-la antes de chegar até o local da gravação. Segundo Celina Torrealba, há pelo menos três passos a serem seguidos antes de começar a entrevistar: o planejamento e pesquisa, a elaboração de perguntas e a preparação do entrevistado.

1. Planejamento e pesquisa

Ao descrever os processos de produção de um documentário, Celina Torrealba aponta a importância da pesquisa e desenvolvimento de ideias na fase de pré-produção de um documentário. As informações coletadas durante a pesquisa para a criação do próprio documentário também podem auxiliar no preparo das entrevistas, seja no momento de definir os seus objetivos ou elaborar as perguntas a serem conduzidas.

“É nessa etapa, ainda, que são avaliados os agentes e pessoas envolvidas na temática do documentário, e que são definidas as vozes que poderão ser ouvidas através da entrevista”, conta a documentarista.

Por exemplo, no documentário “Criando Campeões”, Celina Torrealba entrevista algumas funcionárias da Fazenda Three Chimneys para fortalecer a temática principal do documentário: a inserção das mulheres no setor de criação de cavalos puros-sangues. Com isso, o documentário usa a entrevista como elemento narrativo, que traz autoridade e perspectivas valiosas para o espectador a respeito do público sobre o qual discute.

2. Elaboração de perguntas

A partir da pesquisa e após a escolha das figuras a serem entrevistadas, é possível elaborar as perguntas que serão realizadas. O entrevistador deve ter uma lista definida de questionamentos, que geralmente começam de forma mais ampla, nem sempre se relacionando diretamente com a temática do documentário. Por exemplo, perguntar sobre a infância da pessoa entrevistada pode ajudá-la a se abrir e trazer perspectivas mais intimistas quando ela for questionada sobre a temática principal.

“Além disso, é importante evitar perguntas que possam ser respondidas com ‘sim’ ou ‘não’, priorizando questões de resposta aberta e que permitam que a pessoa entrevistada elabore melhor sobre o assunto. Por exemplo, seria recomendado que a pergunta ‘Você aprecia cavalos?’ fosse alterada para ‘O que te despertou o interesse pelos cavalos?’”, explica Celina Torrealba.

A documentarista ainda defende que, apesar de ser importante ter uma ideia robusta das perguntas que serão feitas, uma característica apreciada em um entrevistador é a flexibilidade. Assim, planeje um tempo para aproveitar as próprias visões e insights da pessoa entrevistada e elaborar perguntas interessantes no decorrer da entrevista.

3. Preparação do entrevistado

A preparação da entrevista também requer que o cineasta instrua as pessoas entrevistadas sobre alguns elementos importantes, como a escolha do cenário, o direcionamento da resposta para o entrevistador, em vez da câmera, e até mesmo a natureza das perguntas que serão feitas.

“Nesse momento, é possível ter uma conversa, seja pessoalmente ou por meio de videoconferência, na qual o entrevistador entende melhor sobre a história da pessoa entrevistada em termos amplos e dá algumas instruções sobre a logística da entrevista, como os temas abordados, a provável duração da entrevista, o local onde ela será conduzida, entre outros fatores relevantes”, sugere a documentarista Celina Torrealba.

A cineasta também lembra que o entrevistador deve evitar dizer as perguntas específicas que serão feitas durante as gravações, já que isso pode tirar a naturalidade e autenticidade esperadas para o dia da entrevista

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Momento da filmagem

Com a logística da entrevista e as perguntas já planejadas, é possível começar as filmagens. Esse é um dos momentos mais determinantes para o sucesso do documentário, já que é através da entrevista que são trazidas as perspectivas e narrativas, muitas vezes, marginalizadas a respeito do tema. Dessa forma, entrevistas bem conduzidas e filmadas com perícia acabam dando destaque para o documentário na totalidade.

Os elementos que devem ser considerados durante a filmagem incluem a configuração do ambiente, o posicionamento e uso do equipamento e a própria condução da entrevista pelo entrevistador.

1. Configuração do ambiente

O ambiente e a atmosfera da entrevista é o que causa uma primeira impressão no espectador, de forma que a configuração do espaço deve ser cuidadosamente pensada para que o foco da conversa esteja no entrevistado e no que ele está falando. Por exemplo, é preciso escolher um local apropriado para posicionar essa pessoa, de preferência de frente a uma janela com luz natural.

A escolha do plano de fundo também pode ser determinante para o sucesso da filmagem. “Optar por um fundo discreto, mas contrastante com a roupa do entrevistado, por exemplo, é uma boa ideia. Além disso, é importante posicionar objetos, como plantas e decorações, de uma forma que não chamem muito a atenção ou se estendam atrás da pessoa entrevistada, criando formatos estranhos”, explica Celina Torrealba.

A documentarista também alerta para os sons do ambiente, como ar-condicionado, ventilador ou ruídos vindos da rua. Se possível, deve-se desligar qualquer aparelho ruidoso durante a gravação e optar por um local silencioso, com portas e janelas fechadas para abafar os sons externos.

2. Equipamento

Em relação ao equipamento, é recomendado ter, no mínimo, dois ângulos de câmera, ou pelo menos dois planos de enquadramento: um que grave em primeiro plano (close-up) e outro em plano americano (dos joelhos para cima), por exemplo. Essa variedade de enquadramentos é mais facilmente alcançada com pelo menos duas câmeras ou um trilho estabilizador.

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Assim como a câmera, o microfone é um equipamento essencial para o andamento da entrevista. Microfones com uma tecnologia mais avançada ajudam na redução dos ruídos, trazendo uma maior qualidade de som. O tripé é outro equipamento comumente empregado durante as entrevistas, assim como diferentes luzes. A depender do nível de luz natural, é possível usar dois ou três pontos de luz de acordo com o efeito desejado.

“Um equipamento para estabilizar as câmeras, como o tripé, é opcional, mas é geralmente usado em conversas com um tom mais sério e informativo. Entrevistas em tom conversacional que incluem o entrevistador como parte da narrativa podem empregar o movimento natural da câmera para expressar irreverência e familiaridade, por exemplo. Tudo dependerá da mensagem que você quer comunicar àqueles que estão assistindo”, conta a criadora da Donna Features, Celina Torrealba.

3. Condução da entrevista

O último elemento crucial para o sucesso de uma entrevista é a sua condução pelo entrevistador. A interação com o entrevistado deve ser fluida; por isso, é importante que ele se sinta seguro, mesmo nunca tendo falado em frente a câmeras. Um dos papéis do entrevistador é esse: deixar a pessoa entrevistada confortável e garantir que o que importa são as suas perspectivas, por isso não existem erros.

Logo antes da entrevista, o entrevistador pode pedir que, ao responder, o entrevistado repita parte da pergunta. Essa repetição pode contribuir não apenas para a edição e storytelling do documentário, como também ajudar a própria pessoa entrevistada a pensar com mais clareza. Por exemplo, Celina Torrealba é a diretora do documentário “Petrópolis de Cada Um”, que trará entrevistas cujas perguntas incluem: “Qual o seu lugar favorito em Petrópolis?”. Neste caso, as respostas dos entrevistados podem começar com: “O meu lugar favorito em Petrópolis é…”.

Durante a gravação das respostas, o entrevistador deve evitar interrupções, mesmo que o entrevistado esteja divagando. Para isso, é possível usar sinais não verbais, como sorrir e acenar quando a pessoa está respondendo à pergunta efetivamente e desviar o olhar ou olhar para baixo quando a pessoa fugir muito do tema.

“Cabe destacar que, mesmo que o entrevistado se desvie do tema, caso a resposta seja interessante para os objetivos do documentário, é possível usá-la para elaborar mais perguntas no momento. Isso faz parte da flexibilidade, uma característica fundamental para qualquer documentarista. O roteiro de perguntas é importante, mas criar as condições para que o sujeito permaneça engajado e as respostas sejam boas é ainda mais valioso”, conta Celina Torrealba.

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Quem é Celina Torrealba?

Fundadora da produtora Donna Features, Celina Borges Torrealba Carpi tem uma formação diversa que inclui uma “Licence de Cinéma” pela Université Paris 1 Panthéon-Sorbonne. No campo do documentário, Torrealba vem se debruçando sobre temáticas relacionadas à ancestralidade e à formação de identidades, o que se reflete em produções como “Arte da Diplomacia”, “Petrópolis de Cada Um”, “Missão de Fé” e “O Tempo das Chuvas”.

Através da Donna Features, a documentarista também trabalhou em longas-metragens reconhecidos internacionalmente, como “Port Authority” (2019), com Rodrigo Teixeira, “Wasp Network — Prisioneiros da Guerra Fria” (2019), dirigido por Olivier Assayas, e “O Farol” (2018), co-produzido em parceria com a A24.

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