No limbo em que vivemos nos últimos quatro meses é difícil acreditar em tudo que falam. Anjos e demônios sopram nos ouvidos e confundem o pensamento daqueles que estão confinados, obedecendo as orientações sanitárias, dentro de exíguos metros quadrados, compulsivamente, coercitivamente, fugindo de um inimigo oculto, em busca de se proteger e ao mesmo tempo cumprir uma responsabilidade social.
Lá fora, os alaridos diminuíram. As confusões não. Tudo é volátil, inconstante, tipo: abre comércio, fecha comércio. Toma cloroquina, não toma cloroquina.
Assim, confinados em seus isolamentos, muitos se sentem com alma de Poeta, cantado por “Mariza” – Andam perdidos na vida, como estrela no ar; sentem o vento gemer, ouve as rosas chorar”.
Nesse cenário de incertezas dentro do qual uma parte da população teme a morte e outra parte desdenha o perigo do vírus (Covid – 19), embora difícil acreditar em tudo que se ouve, é de valia ouvir especialistas. Além dos médicos, os historiadores, filósofos e sociólogos.
Cada qual com sua teoria. O historiador Leandro Karmal, por exemplo, prevê que quando tudo isso passar, teremos novos tempos, com novos costumes e conceitos sociais. Ele usa como parâmetro outras pandemias ocorridas no passado. Ou períodos pós-guerra para dar um sentido a algo que parece não tem sentido. É o tal “novo normal”
Psiquiatras e psicólogos justificam que a ansiedade e depressão das pessoas em tempos assim é normal e que ao fim desta crise tudo volta como antes, incluindo modificações de comportamento, o que seria a origem do “novo normal”.
Eu, que sou simples mortal, que vivo tentando entender a complexidade da alma humana e, por conseguinte a complexidade do comportamento social, mesmo com todo otimismo que me é peculiar, mesmo tentando não cruzar a linha tênue do otimismo com a hipocrisia, fico na expectativa para saber qual será este novo normal.
Contudo, dúvidas e perguntas permeiam os pensamentos.
O mundo seguirá ambíguo e contraditório, com terríveis injustiças sociais, ou teremos conotações mais brandas?
Vamos conseguir dar sentido ao que não tem sentido?
Torcedores do Corinthians e Palmeiras sentarão juntos, torcerão em paz e compartilharão a pipoca?
Então qual será essa mudança de comportamento depois de postergada agonia do povo?
Ademais, tudo poderá ficar como antes, no quartel de Abrantes, além de milhares de mortos e a economia quebrada. A questão principal é chegar vivo na margem oposta do rio. Aí, lá, veremos o que será mesmo esse tal novo normal.
Elizeu Gonçalves Muchon – Professor e Jornalista.
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