O cenário da produção de soja no Brasil não é um dos melhores no início de 2024. O ano começou com perdas expressivas, principalmente no Centro-Oeste, maior região produtora do grão do país. O calor e as chuvas irregulares prejudicaram as lavouras nas fases de plantio e desenvolvimento.
Dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) mostram que, em relação à safra anterior, a perda no Centro-Oeste foi de 11%; no Sudeste, 8%; no Nordeste; 7% e no Norte, 5%. O Sul foi a única região que teve melhoria no potencial produtivo (+20).
As projeções da Conab apontavam para uma colheita no país de 162 milhões de toneladas — quando considerada a expectativa inicial desta temporada —, mas o número foi revisado para baixo. A expectativa agora é de que a produção seja de 149,4 milhões de toneladas, o que representa queda de 3,4% se comparado com o volume obtido no ciclo 2022/23.
O advogado Evandro Grili, especialista em Direito Ambiental e Sustentabilidade, explica alguns dos fatores que levaram a esses resultados.
“Nós passamos pelo El Niño muito forte nesse ano que passou, que teve uma das temperaturas mais elevadas, isso muda toda a estrutura de chuvas. A questão climática é cada vez mais um desafio gigante para o agronegócio. E as questões jurídicas, porque o mundo cada vez mais se cerca de maior controle ambiental possível, vai criando barreiras para que os produtos que venham de regiões que não respeitam o meio ambiente tenham dificuldade para ser comercializados”, analisa.
Alerta
Os efeitos climáticos mais intensos do El Niño começam a perder força a partir de fevereiro, mas o fenômeno pode influenciar o clima até o mês de junho no país. Além disso, já existe a previsão de La Niña no segundo semestre deste ano, quando as regiões Norte e Nordeste do Brasil recebem mais chuvas.
Por isso, a Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil) recomenda aos produtores de soja que redobrem os cuidados antes de fechar negócios nos próximos meses. A entidade pede que não realizem vendas imediatas e futuras e não adiantem compras.
De acordo com a análise da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), no Mato Grosso — maior estado produtor de soja — por exemplo, as dificuldades no plantio, necessidade de replantio e a falta de chuvas geraram essas perdas de produtividade. E em meio à queda dos preços, os resultados econômicos para o produtor ainda podem piorar.
O advogado reforça a importância do agronegócio para a situação econômica do país.
“Se o agro estivesse em alta como estava há alguns anos, por uma conjunção de fatores essa recuperação da economia brasileira seria muito mais rápida e muito mais forte. Somos um país que tem no agro um dos principais players (se não o principal na esfera econômica), e quando ele não repete performances positivas a economia acaba patinando e demorando mais a se recuperar”, avalia.
A análise da CNA foi publicada na edição de janeiro do boletim mensal de inteligência de mercado, divulgado na última quarta-feira (7).
Comentários
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.